A Idéia

É fácil perceber nos dias de hoje a interação superficial do ser humano com a maioria das coisas a sua volta. E não é difícil se chegar ao motivo dessa postura contemporânea. Diversos acontecimentos do ultimo século foram aos poucos criando pessoas mais e mais individualistas.
O consumo rápido e fácil e a venda de prazer sem culpa são algumas das “doutrinas” que os dominantes capitalistas e neoliberais difundem pela mídia há anos.
Isso e diversos outros fatores ocasionaram, a meu ver, em uma sociedade fria, distante de si mesma, onde as relações são criadas e desfeitas visando o bem pessoal, ou do pequeno grupo ao qual pertence.
Essa postura de unidade no mundo faz as pessoas estarem sempre em “estado de defesa” como em uma guerra, as pessoas se defendem das outras para não entregar nenhum “segredo de estado” ao “inimigo”. Por ser uma postura cultural isso acaba se tornando natural, um código de conduta padrão. Onde as distancias são pequenas e ao mesmo tempo imensas. Felizmente nem todas as pessoas agem assim.

Diante de tais constatações e tantos pontos a serem abordados, tive que reduzir meu ramo de ação e discussão, isso era perigoso por um lado, pois poderia estar deixando de lado boas reflexões, porém era preciso, pois caso fosse muito aberto, tanto eu quanto o publico poderíamos nos perder.
Selecionei então algumas coisas que considerava questões iniciais a se levantar, como: a vida ; o valor das amizades; a perda.

Como estratégia para fazer as pessoas prestarem atenção em suas vidas, nas vidas a sua volta, e dar valor a tudo ou pouco do que elas tem. Evidenciar que todos estamos sujeitos a morte, e que se não agimos com verdade a cada dia, podemos deixar passar momentos que seriam importantes.
A estratégia criada seria então, o desenrolar dos últimos meses de alguém que sabia que iria morrer em breve, e assim ela (a pessoa em questão) decide como seu ultimo esforço em vida deixar algo de si para o mundo. Seu primeiro passo então é dizer tudo aquilo que ele achava importante a seus amigos e familiares, mas que por qualquer motivo pequeno do dia-a-dia ele deixara de dizer, relembrando bons momentos, tocando em feridas que o tempo tenha curado ou deixado cicatrizes, e agradecendo por acontecimentos e atos de seus amigos que contribuíram para ele se tornar o que era atualmente. Dando conselhos, ressaltando o que ele considerava defeitos e virtudes.
Seu segundo passo seria reunir todos que ele conseguira mandar essa carta, dizer que iria morrer.
Perguntando então se alguém quisesse dizer suas ultimas palavras que o fizesse neste momento, pois poderia não haver outro, e assim fazer com que todos nesse dia digam um para o outro nesse encontro o que deveria ser dito.
Em seguida ele prepara sua despedida, com textos que pretendem causar uma reflexão sobre a morte/vida, essa busca contemporânea por relações superficiais, propondo todos a se questionarem sobre por que estamos aqui neste mundo e o que fazemos por aqueles que amamos. Querendo instigar em seus amigos e conhecidos, a vontade de fazer algo no intuito de melhorar a sua e a vida das pessoas a sua volta, de fazer o que ele fez: Dizer o que deve ser dito.

Dizer o que deve ser dito, fazer uma análise de suas relações com os outros, desde quando se conheceram. As coisas que passaram, alguma consideração para o “engrandecimento pessoal”. Expor seus pensamentos abertamente, deixando pudores de lado, e dizendo desde aquele pequeno pensamento que pareça insignificante até o que se mostraram extremamente importante.


Esse era o plano, o enredo que, depois de pronto, deveria ser aplicado à vida real. Posto a prova de todos os imprevistos, entrando em um embate direto com a falta de tempo das pessoas para cultivar suas vidas e amizades, tendo por muitas vezes se dedicar ao máximo em questões de sobrevivência; diversos compromissos; deixando de lado o que a elas era importante.
Para atingir as pessoas e fazê-las saírem de suas fortalezas, precisaria não apenas, passar cartas por debaixo da porta para quem sabe serem vistas, precisava que elas saíssem e vissem o que eu tinha a dizer, primeiramente pela curiosidade fazer com que elas saíssem em buscas de respostas. Tira-las de suas rotinas. Colocá-las diante do imutável. Do fim sem volta.

Haviam vários fatores que me faziam pensar em recuar desse trabalho. Manipulação das pessoas e seus sentimentos, mentiras, e o difícil desafio de trabalhar com um dogma, um tabu, que a situação da morte impõe a todo ser humano, um peso enorme que é cultivado por milênios em varias culturas. Mas o não fazer não mudaria nada na realidade de ninguém, eu não seria uma pessoa melhor nem pior não dando andamento a esse projeto. Continuaria como a maioria das pessoas caminhando de olhos fechados.
E por acreditar em possíveis mudanças e reflexões, atacaria suas fortalezas tentando quebrar barreiras, mas consciente de que poderia haver retaliações, embargos e guerras declaradas.

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